O democrático Desfile do 2 de Julho, nesta quinta-feira (2),
abriu espaço para as mais diversas manifestações artísticas, culturais,
religiosas e protestos pacíficos. O cortejo, que celebra as lutas pela
Independência do Brasil na Bahia, foi acompanhado por autoridades, além de
baianos e turistas que caminharam, durante a manhã, da Lapinha até a Praça
Municipal, no Centro Histórico de Salvador. O percurso atrás dos carros que
levavam o Caboclo e a Cabocla - símbolos da independência baiana - durou cerca
de quatro horas.
Diversos grupos sociais participaram do cortejo, enquanto as
fanfarras e filarmônicas deram o tom da festa. Ao som de canções famosas da
música popular brasileira, a Fanfarra Duque de Caxias (Fanduc), banda do
Colégio Estadual Duque de Caxias, que fica na Liberdade, esperava para entrar
no cortejo ainda na Lapinha. Cerca de 60 alunos e ex-alunos da escola
participam do desfile desde 1992 e ensaiam durante o ano inteiro para o Dia da
Independência da Bahia.
Neste ano, vestidos de preto e branco, os integrantes foram
comandados pelo regente Carlos Almeida, mais conhecido como Carlos Show, antigo
aluno do Duque de Caxias. “Estamos muito emocionados e eu, em especial esse
ano, já que me interessei pela escola depois de começar a participar da fanfarra.
Concluí os estudos no ano passado e, hoje, além de regente, sou estudante de
artes cênicas”.
Filarmônicas do interior
Além de dez colégios estaduais, as cidades do interior
participaram com as filarmônicas, como a estreante Lira São Bernardo, do
município de Alcobaça, no sul da Bahia. Para o regente, Luís Lima, a presença
da banda no desfile é motivo de orgulho para ele e para os alunos, que
esperavam no Pelourinho para participar do cortejo. “É muito gratificante que a
gente tenha espaço para mostrar o trabalho que estamos desenvolvendo no
interior do estado e participar junto com todo mundo da festa”.
Para o secretário estadual de Cultura, Jorge Portugal, essa
é uma das manifestações populares mais importantes para o calendário nacional,
e não somente baiano. “Desde o dia 25 de junho, em Cachoeira, que estamos
promovendo a Rota da Independência, com atividades que vão durar o mês inteiro,
em comemoração ao sangue que foi derramado na Bahia”.
Luta feminina
Muitos grupos sociais aproveitaram o cortejo para protestar
e levar suas reivindicações para as ruas. A Marcha das Vadias - movimento
feminino que tem bandeira contra a violência e assédio sexual e pelo respeito
pelas mulheres - foi representado por um grupo de jovens. Entre eles, a estudante
Gabriele Vitena, que viu no Dois de Julho a oportunidade de lutar por uma
sociedade mais igualitária. “Esse já é o quinto ano da marcha e nessa data, que
é tão importante para a Bahia, não tinha como nós não participarmos”.
Segundo a secretária de Política para as Mulheres, Olívia
Santana, essa festa tem a marca das mulheres, de Maria Quitéria, de Joana
Angélica e da Cabocla, que é o maior símbolo de participação feminina.
“Reconheço o 2 de Julho como a festa mais genuinamente popular, mais democrática
que temos na Bahia e que simboliza a capacidade das mulheres de lutar e fazer
política para mudar o nosso estado”.
Direitos humanos
O engenheiro ambiental Jônatas Spínola segurava uma placa e
usava uma camisa em prol dos direitos humanos. “Esse é um espaço democrático,
que representa muito para o estado da Bahia. E é um momento ideal para levantar
bandeiras como dos direitos humanos, do meio ambiente, redução da maioridade, e
fazer um alerta à sociedade para esses debates”.
Até os super-heróis decidiram aparecer no cortejo. O
radialista comunitário Luís Lobo saiu de casa fantasiado de super-homem para
lutar por aquilo que acredita. No Pelourinho, ele carregava uma placa pedindo
uma sociedade melhor. “Eu acho que precisamos de super-heróis simbolicamente,
precisamos nos espelhar nos nossos heróis da independência, sair do comodismo e
lutar pelos direitos que desejamos. Se hoje temos alguns direitos adquiridos é
porque homens e mulheres lutaram por isso. E precisamos fazer o mesmo”.
Segurança
Mais de 1600 homens e mulheres da Polícia Militar foram
mobilizados para fazer a segurança de quem participou e acompanhou o desfile. A
operação especial para celebrar a Independência da Bahia teve início com a
transferência do Governo do Estado para Cachoeira, no dia 25 de junho, e segue
até o próximo domingo (5), com a volta do Caboclo para a Lapinha. Segundo o
secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, os policiais se envolveram
em todo o preparativo cultural do festejo. "Nossa participação se inicia
antes mesmo da festa começar, porque reconhecemos a importância dessa data,
quando a independência do Brasil se consolidou e onde bravos homens e mulheres
lutaram pelo nosso País".
Além de fazer a segurança da população durante o trajeto, os
policiais também participaram dos festejos com a banda da PM, que seguiu logo
atrás do carro onde foi levado o Caboclo. Para o regente da banda, o tenente
Roque Bispo, participar de um marco importante para o estado é uma forma de
mostrar que o trabalho da polícia vai além da promoção de segurança.
"Estamos aqui também promovendo a cultura, porque a corporação não se
resume à presença ostensiva nas ruas. Por isso fazemos questão de sempre estar
presentes no Dois de Julho e promover também nossos projetos culturais e
sociais".
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