quinta-feira, 14 de julho de 2016

Frigorifico da Bahia inicia o abate de jumentos

Um frigorífico instalado há pouco mais de dois anos no município de Miguel Calmon, município localizado no Piemonte da Chapada Diamantina, a 355 quilômetros de Salvador, começou nesta segunda-feira (11), o abate de jumentos, que terão o couro exportado para a China. No primeiro dia de trabalho nesse tipo de atividade, mais de 300 animais foram abatidos.

Jumentos ficam confinados, por, pelo menos, 24 horas antes do abate
A atividade é licenciada pelo Governo do Estado e nesta segunda-feira, quatro veterinários da Secretaria da Agricultura acompanharam o abate dos primeiros jumentos, com o objetivo de conferir se todas as recomendações técnicas estavam sendo cumpridas.

 Além do couro, outras partes do jumento vão ser aproveitadas no mercado da Bahia, segundo o gerente geral do frigorífico, Israel Augusto. “A carne do jegue abatido aqui está sendo doada para o zoológico de Salvador, que vai alimentar grandes animais. O resíduo restante vai ser transformado em ração animal, em uma indústria especializada”.

Mas os chineses não vão usar o couro do jumento para ser curtido e transformado em produtos como sapatos, bolsas ou similares. Em laboratórios especializados, é feita a raspagem da parte posterior do couro, para a produção de medicamentos e de alguns cosméticos, seguindo uma tradição da cultura milenar chinesa, em extrair esses produtos dos jumentos. “Na China,  a quantidade de jumentos é muito pequena para o que eles necessitam”, explica o Israel Augusto.

A portaria do governo é clara e impede que a carne de jegue seja usada para o consumo humano, mesmo, segundo Israel, isto ser possível do ponto de vista nutricional.

“A portaria recomenda que não haja consumo humano da carne de jumento por questões culturais e isso não vai ser feito aqui”, garante o gerente.

 O Frigocezar está instalado a 12 quilômetros do centro de Miguel Calmon e tem grande tradição no abate de gado. A crise econômica diminuiu bastante a produção de gado de corte e afetando diretamente os empregos do abatedouro que tinha cerca de 130 funcionários e hoje tem 86.

Ainda sem ter fechado todos os cálculos sobre os lucros da nova atividade, o gerente estima que o faturamento do abatedouro deve aumentar em torno de 40% com a exportação do couro de jegue para a China.

O abate de jegue vai acontecer apenas às segundas-feiras e isso já fez aumentar a perspectiva de criação de cerca de 20 vagas de trabalho, de acordo com os diretores. A expectativa é um aumento desse número, caso o Brasil consiga atender à demanda de exportação para a China.

O local usado para o abate é o mesmo onde o gado é abatido. Para isso, há uma limpeza completa, segundo o gerente geral do frigorífico, por isso, estamos trabalhando apenas na segunda-feira com os jegues. O procedimento é praticamente igual para a condução dos jegues até o ponto onde são abatidos. Eles ficam confinados em currais durante 24 horas, apenas com ingestão de água. Depois são conduzidos através de corredores para as proximidades do abatedouro.

A partir de um determinado ponto, só segue um jumento por vez. “O animal não sofre para morrer, pois ele chega ao um ponto do corredor e logo é atingido por uma forte descarga na nuca, entrando em estado de coma”, explica o veterinário Moacir Araújo. “É muito pouca a diferença do abate de bovinos”, diz o veterinário.

 Dali, um por um segue para uma área isolada, onde é feito um disparado na nuca para “insensibilizar o animal e evitar que ele sofra na hora da sangria”, explica Moacir.

Antes do abate, são feitos exames de sangue e o animal passa por um completo processo de limpeza do couro, através de um banho. Só são abatidos os jumentos que pesem, no mínimo, 100 quilos.

                                   
Repercussão

A morte de jumentos em frigorífico é o assunto mais comentado nas emissoras de rádio de Miguel Calmon e região, mas a população ainda não sabia, até a presença do #AgoraNaBahia no local, o que iria ocorrer e qual a finalidade do abate.

O experiente veterinário garante que não há sofrimento dos animais, antes do abate
Entre os moradores de Miguel Calmon, muitos demonstram grande sentimento pelo abate dos jegues, considerados “animais sagrados, usados pela família de Jesus Cristo e que não deveria ter um fim tão triste”, lamentou a dona de casa Rosa Maria. Outros são completamente a favor, como Jerônimo Batista, que comparou o abate com o que
ocorre com o gado. “É a mesma coisa. Se tivesse que ter pena a gente ia comer o quê?”, indaga, ainda sem saber que o jegue abatido em Miguel Calmon não terá a carne consumida por humanos.

Os diretores do frigorífico dizem que o anúncio do abate de jumentos gerou controvérsia, mas “quando as pessoas passarem a tomar conhecimento do objetivo econômico, inclusive com a geração de empregos, a opinião vai mudar”.

Durante o confinamento que dura 24 horas, os animais tomam apenas água 

Os jumentos abatidos no Frigocezar têm origem de vários criadores da região, que chegam a receber R$ 70,00 por cabeça, caso o animal seja levado ao frigorífico. “A gente paga um pouco menos se tiver que ir buscar o jumento em alguma propriedade”, explica o gerente Israel.

Até o fim de julho, primeiro mês em que a pele será exportada, o frigorífico espera ter abatido cerca de três mil jumentos. E com o aumento da oferta de animais já está sendo estudada também a atividade aos sábados, o que aumentará a necessidade de ampliação da mão de obra, de acordo com o Israel.


Fonte: Agora Na Bahia

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